sábado, 29 de junho de 2013

De mãos dadas

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.
Santo Agostinho

sábado, 15 de junho de 2013

Meu caro amigo

Sempre me interessei pela ditadura.
Acredito que todo sofrimento e toda limitação da época, proporcionou o surgimento de grandes artistas e obras.
Arrisco a dizer que minhas músicas favoritas são a respeito daquele tempo (mesmo gostando muito de músicas divertidas, que me fazem dançar e rir do tipo "vodka ou água de coco").

Costumava dizer que se tivesse vivido naquele tempo, certamente seria uma revolucionária, que lutaria pela causa.
De forma contraditória, assistindo "Anos Rebeldes", que virei fã por conta da minha irmã, ficava incomodada com o comportamento mais hostil dos líderes revolucionários, chegava a achar chato e pensar "mas gente, eles não pensam em outra coisa?"
E dava para pensar?

Fácil criticar e apontar o dedo.
Tanto para os mais chatos, quanto para os alienados (várias vezes eu pensava "e essa galera preocupada com os filmes dos EUA, no meio do caos?").

Sempre tive orgulho dos "caras pintadas", que tiraram do poder aquele que era contra os marajás. Eu tinha 6 anos, nem sabia direito o que estava acontecendo e o que aquilo representava, mas lembro como se fosse hoje, da transmissão ao vivo e cada grito eufórico após um voto "sim".
Sinto orgulho porque aquilo era o saldo positivo da luta dos anos 60.
Tivemos o direito do voto, fomos iludidos e tiramos do poder aquele que nos traiu.
Exercício completo da democracia.

Só que passou.
A poeira baixou e a minha geração já estava confortável politicamente (nasci um ano depois do Diretas Já).
A gente só queria saber de diversão e arte, política e economia não chegavam nas nossas mesas de bar.
Eu particularmente sempre achei muito chato e usava do "política e religião não se discute"para não evidenciar minha ignorância a respeito do assunto.

Cheguei a arriscar algumas vezes, me limitando a dizer que o pessoal que lutou para que nós fossemos de fato um país democrático, deviam estar decepcionados com o que fizemos com isso: nada.

Agora, estou me sentindo numa revolução.
Sem entrar no mérito partidário, outro dia senti medo. Ví uma propaganda do Lula com a Dilma, comemorando o aniversário do PT e falando de como eles são bons para o Brasil, etc...Pera lá, o Brasil não é do PT, o Brasil é do povo que escolhe, muitas vezes sem saber direito como escolher.
Mas a revolução não é exatamente por isso.

Não?

É pelo aumento abusivo das tarifas de transporte público- R$0,20.
Os R$0,20 mais caros do Brasil.
Custaram carros quebrados, pessoas machucadas, lojas em reforma. Medo, pânico.

R$0,20, é isso mesmo?

De repente, me vi do lado das senhoras dos "Anos Rebeldes"chamando os revolucionários de baderneiros.
Parei para refletir.

Os R$0,20 foram de fato a gota d'agua.

O povo cansou de tanta impunidade, da desigualdade...da falsa democracia em que vivemos (a obrigação pelo voto merece um outro post).
As pessoas que estão ali gritando nem lembram mais porque começou, só sabem que querem mudança.

Não é uma greve que vai ser resolvida com uma negociação.
É uma luta que tem que acabar com um acordo.

Continuo não gostando da violência, da depredação.
Continuo com medo de vandalismo.

Mas agora torço para que isso dê resultado.
Para que as pessoas comecem a refletir e passem a estudar melhor em quem votar, sem ser através do horário político.

Que a gente finalmente entenda que damos o poder para nossos eleitos e que eles devem nos representar e não rir da nossa cara e fugir do CQC.

Boa sorte Brasil!
Eu me orgulho de você.