quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A hora do plano A

Aula de Ciências em 1998, na época estava na sétima série (hoje oitavo ano). O professor contou o experimento de Pavlov com cachorro (que passou a salivar por conta da campainha). Fiquei encantada com aquilo e quis saber mais. Qual não foi a minha surpresa quando soube que a Ciência que estudava isso era a Psicologia, profissão do meu pai.

2002 chegou o ano do vestibular e de escolher qual profissão. Estava decidida desde 1998, mas como colocam dúvidas na nossa cabeça, pesquisei um pouco mais sobre Psicologia e Terapia Ocupacional. Após assistir uma sessão de T.O da minha prima, vi que não era aquilo. Segui meu coração e prestei vestibular para Psicologia. Não me interessava a instituição, eu queria cursar a Ciência e saber mais sobre outros estudos similares aos de Pavlov.

São 5 anos de graduação, tempo em que me tornei adulta e comecei a entender que as contas não são pagas por milagres. Dinheiro...veio a pressão do mundo adulto. O caminho mais garantido é empresa- férias remuneradas, 13 salários garantidos e mesmo quando você leva um pé na bunda você ganha dinheiro. 
2006, faltando um ano para me formar, fui a contra gosto começar um projeto plano B, até conseguir garantir um a mais para abrir meu consultório e ser feliz.

Ingressei num mundo que não conhecia. Consultoria de RH, ia ficar 2 semanas num projeto temporário, fiquei 4 anos. Aprendi a usar a linguagem corporativa e a me dedicar por uma causa que não era minha. Nem sempre me senti bem com esse fato, mas nunca deixei de me doar. Trabalhei com conjutivite, deixei minha família na praia no reveillon para trabalhar no dia 30 de dezembro e voltar depois...

Veio a chance de conhecer "o outro lado do balcão". Me tornei RH de empresa. Fiquei encantada, com o seguimento, não com a atividade.
Em uma quarta-feira, em 2010, 04:30 da manhã, minha mãe me levava ao aeroporto. Pedi para ela parar o carro no meio da Avenida para eu vomitar. Estava com gastrite. Minha mãe falava para eu não ir, mas não dava...quem eu ia avisar aquela hora? Tinham pessoas me esperando para serem promovidas.

2012, levei um pé na bunda. Doído, sofrido. Ainda doi quando lembro. Ouvi coisas horriveis a meu respeito e por algum tempo cheguei a acreditar que eu era aquela pessoa. Passou, uma porta se abriu. Voltei para consultoria, mas agora tinha um nome chique- headhunter.

2013 me casei e não tive lua de mel. Precisava entregar vagas, meus clientes precisavam de mim e meu marido me entendia mais do que eles. Não aguentei, quando vi que queriam corromper meus valores tive um ataque e pedi para sair. Sem Blackberry de madrugada para conferir e-mails. Queria sossego.

No mesmo ano passei por uma empresa pequena e via que o negócio ia desmoronar. Fui para outra consultoria e tive um gestor desafiador. Amadureci, conheci o significado de qualidade no trabalho. Chegou uma oportunidade diferente. A mesma atividade, num cenário que parecia encantador, uma chefe legal. Fui.

2015 um ano dificil para os brasileiros. Viajei a trabalho com febre e pedra nos rins. Fui promovida, ganhei carro da empresa por conta do meu resultado. Senti que estava no ápice da carreira do headhunter. Permanecia infeliz. Um sentimento de frustração me perseguia. Eu estudei 5 anos para entender o comportamento das pessoas e estou aqui julgando quem serve e quem não serve para a empresa. Não é isso.

E ai que as coisas conspiram a favor. 2016 veio o fim para me empurrar para o plano A.
É hora de respeitar os limites do meu corpo, mas dar meu sangue por mim. Pelo meu sonho e quem sabe pela minha vocação.

Tudo o que vivi em 10 anos foi fundamental para que eu amadurecesse. Para conhecer pessoas diferentes, criar laços, entender realidades e respeitar o outro. De tudo que vivi o que mais me importou, e é o que levarei para sempre, são as amizades que construi nos lugares que passei.

Chegou a hora.