terça-feira, 31 de março de 2009

Em busca do equilibrio

Fazer 18 anos sempre foi um sonho...poder dirigir para qualquer lugar, ter liberdade, conhecer lugares novos e não depender de mais ninguém. Dizia que ia ter uma Santana Quantum, quatro portas e a placa seria ANA-2003 (ano em que completaria 18 anos).

Chegou o grande dia.

Descobri que o processo para tirar carta era bem mais demorado, mas tudo bem. Ao invés da Santana Quantum, ganhei um Corsa, usado...mas era lindo e a forma como ele veio já foi mais do que especial.

Ótimo.

Depois das aulas de CFC e práticas, o primeiro exame- deixei o carro morrer três vezes, fui reprovada. Quinze dias depois, após muito treino, passei, sem nenhum erro e sem pagar por isso.

Ganhei a liberdade que sempre sonhei, apesar de ainda ser dependente. Afinal, pagava a gasolina e os estacionamentos da vida (incluindo flanelinhas) com a ajuda dos meus pais...mas tudo bem. O carro era meu.

Batia, arranhava em colunas, fazia balizas bizarras e corria, nossa, como corria! Me achava o máximo atrás daquele volante. Adorava dar caronas, cantar no carro e chorar.

O Corsinha se tornou meu fiel companheiro. Ia para todos os lugares com ele. Rezava para a gasolina não acabar no meio da marginal, ou no caminho para aquela prova. Lembro da primeira vez que peguei estrada...fui para Santos, morrendo de orgulho.

Um belo dia de verão, no início das férias, estava indo buscar alguns amigos para irmos ao parque correr. Na Avenida Santo Amaro comecei a ter uma sensação estranha, que até hoje sinto, mas não consigo descrever.

Subi no viaduto em cima da Avenida Bandeirantes e pronto, a sensação piorou. Num impulso, brequei o carro, meu coração disparou, meu braço começou a formigar, achei que fosse morrer.

Durou segundos, mas pareceu uma eternidade.

Retomei a consciência, ouvindo buzinas e gritos "você é louca". Cheguei na casa dos meus amigos ainda muito assustada com o que tinha acontecido, mas não queria contar nada, estava morta de vergonha.

Pedi para um deles ir dirigindo até o parque. Como eles não tinham carro e adoravam dirigir, toparam na hora. E esse foi meu maior erro.

Depois daquele dia, os ataques tornaram-se frequentes e durante 6 meses tentei advinhar sozinha o que estava acontecendo, sem contar nada para ninguém. Me auto diagnostiquei com sindrome do pânico e decidi procurar uma terapia.
A essa altura, minha mãe, irmãos e namorado, já sabiam o que estava acontecendo. E cada um a sua forma dava um palpite e tentava ajudar...

A terapia, Lacaniana, foi muito útil para algumas coisas...Terminei meu namoro no meio do caminho, sofri com o casamento do meu irmão, etc...mas o pânico mesmo, passou longe. Decidi parar...era um processo muito doloroso voltar para casa mais angustiada do que tinha ido.

Comecei a trabalhar, me formei e rodeada de psicólogas já conseguia contar para as pessoas com menos vergonha..."não ando em pontes nem túneis, tenho um probleminha" e por aí vai...
Até que um dia, em uma conversa despretensiosa, encontrei a luz no fim do túnel. Possivelmente eu tinha labrintite...uma infecção no labirinto, mais comum em idosos.

Meu amigo Google me deu todas as informações necessárias. Possiveis causas e consequências, entre elas, a sindrome do pânico! Marquei otorrino. Ele só não me assustou mais porque não dava..."como você dirige até hoje?!". Mandou eu fazer um exame que segundo ele seria terrível, porém necessário para dar continuidade ao tratamento.
Não tive coragem de ir.

Mudei de carro, voltei para terapia (dessa vez uma abordagem mais humana)...mas a sensação continuava.

Um ano depois, resolvi mudar a situação. Já não aguentava mais depender dos outros, negar caronas, viagens e passeios. Além disso, as crises começaram a piorar...não conseguia mais andar em escadas rolantes, elevadores e às vezes até como carona passava mal.

Marquei otorrino, dessa vez, uma mulher que já tinha me atendido numa crise de garganta.
Contei para ela tudo o que tinha acontecido. Ela falou "Imagina que você tem labirintite, o que você tem é VBB, mas de qualquer forma, faça o exame...você não vai sentir nada!" Fiz os exames de sangue e marquei o tal otoneurológico.

Milhares de recomendações- nada de café, doces, açúcar, suco de maracujá e chá de camomila...tudo o que eu mais adoro nessa vida. Tudo bem, é por uma boa causa.

No dia do exame, fui com a minha irmã, pois minha mãe não podia ir.
Entrei na salinha, respondi a todas as perguntas. Tudo "ok". Começou o exame, a médica do laboratório super simpática e tranquila.
Cai da cadeira no primeiro zumbido do ouvido.
Tentamos de novo....E mais uma vez cai da cadeira.

A médica, super paciente, disse que era melhor eu voltar na médica e tratar da labirintite, antes de descobrir a causa, já que as crises estavam fortes e eu não conseguiria fazer o exame assim.

Ontem comecei a tomar o remédio.
Não queria...confesso.
Mesmo que seja por 30 dias, pensar na idéia de depender de um remédio para subir numa ponte me incomoda e muito.
Mas, é assim que tem que ser.

Sinto que estou no caminho certo...
E que venham as pontes e túneis para comprovar!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Justiça?

Cheguei no trabalho e fiz meu ritual, que inclui ler as manchetes do UOL.
"Dona da DASLU foi detida".

Na hora me lembrei do fato ocorrido 4 anos atrás...recebi a noticia tomando sol na piscina em meio a frequentadores VIPs da loja, que eu nunca entrei.
Eles comentavam indignados: Presa por isso? Absurdo é o valor dos impostos...
Na época me indignei calada. Já tinha causado polêmica demais por conta da diferença social e naquele momento (estirada na piscina) não tinha mais moral para falar nada.

Hoje era diferente. Estava em meu ambiente de trabalho, palavra que eu desconhecia naquela época. Mas a reação foi outra...ao invés de pensar "bem feito", lembrei-me que ela está com câncer no pulmão, de suas boas ações e sua preocupação com o bem estar de seus funcionários (coisa rara hoje em dia). Não que justifique, mas são atitudes que demonstram caráter de alguém.

Além disso, de lá para cá, passei a pagar impostos, e vi como é caro.
Lembrei-me também que aquele grupo de frequentadores da DASLU indignados, com a qual convivi pouco mais de um ano, também não pagava impostos...inclusive o da casa onde estávamos ao saber da noticia. Não por falta de dinheiro, mas por não quererem perder a oportunidade de comprar mais um carro no ano por conta do IPTU da casa de praia.
Portanto vale lembrar que "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão", ou 94, como preferir.

Na mesma semana, diretores e outros funcionários da Camargo Corrêa foram presos.
Desvio de verba, dinheiro sujo, lavagem de dinheiro...enfim, aqueles trambiques naturais de quem fica rico da noite pro dia sem ganhar na Mega Sena. Tem mesmo necessidade de prender? Não seria melhor uma outra alternativa, tipo cobrar as coisas ou incentivar a participação em ações voluntárias? Cadeia nem sempre é o melhor castigo. Eles sabem que serão soltos em no máximo 2 dias, e que voltarão aos escritórios e continuarão cometendo seus "crimes" a favor da qualidade de vida.

Deitada no sofá da sala, depois de uma semana cansativa, feliz com a sexta-feira, vendo novela, escuto barulho de tiros...comento com a minha mãe que fala "são fogos, filha". Otimista.
Pouco tempo depois escutamos as sirenes de policia e ambulância. Interfono para o porteiro e ele diz "um homem foi assassinado na nove de julho com a cidade jardim, em frente ao banco"...Na velha reação ao assalto...o assaltante? fugiu com o dinheiro. E aquele homem que voltava para casa, depois de um dia de trabalho, perdeu o fim da novela.

Afinal, o que é justiça?

quinta-feira, 26 de março de 2009

Saudades...

E por falar em saudade
Onde anda você?
Onde andam seus olhos que a gente não vê?

E por falar em beleza
Onde anda a canção que se ouvia
Na noite dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava, em total solidão.

Hoje saio da noite vazia
Numa boemia sem razão de ser.
Da rotina dos bares, que apesar dos pesares, me trazem você.

E por falar em paixão, da razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite nos bares...

Onde anda você?

(Vinicius de Moraes)

domingo, 22 de março de 2009

Caça ao tesouro

Numa tarde passeava tranquilamente pela cidade agitada.
Ouvia sua música predileta- pela melodia, pela voz do cantor e principalmente pela semelhança com sua vida.

Sentiu um vento no rosto.
Sorriu, gostava da brisa.

De repente, algo tapou seus olhos.
Era uma peça, semelhante a de um quebra-cabeça.
Continha uma mensagem...mas não conseguia decifrá-la.

Era uma informação, aparentemente sem importância...como muitas outras que já obtivera na vida.
De qualquer forma, guardou, com certo carinho.

Tempos depois, na praia, a onda do mar trouxe outra peça.
Teve esperança, talvez completasse a frase anterior...
Não! Era um outro pedaço sem sentido, mas de alguma forma eles tinham uma conexão.

Alguns meses se passaram.
E recebeu um e-mail com mais uma peça.
Era a que faltava, a peça do meio...que ligava o início da frase com o final.
Imprimiu.

Juntou as peças.
Mas ainda assim não conseguiu ler.
Criou uma série de hipóteses da mensagem.

Mais do que decifrar a mensagem, queria saber porque aquilo estava aparecendo na sua frente, para quê precisava saber daquilo tudo? O que fazer com aquelas informações?

No meio da confusão, decidiu dar uma volta para espairecer e quem sabe tomar uma decisão- esquecer aquilo ou continuar buscando sentido.
Colocou seu fone no ouvido e foi cantando pela rua...

"Eu quis te conhecer
Mas tive que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno não dá

Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente
Por sentir vontade

Eu quis te convencer
Mas tive de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir

Pode ser a eternidade má
Caminho em frente
Pra sentir saudade"

sexta-feira, 20 de março de 2009

No outono é sempre igual...

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no meu coração....

quarta-feira, 18 de março de 2009

Caixa preta

"Um segredo e um amor
O que será maior em mim?
(...)
Se eu gritasse para o mundo ouvir
Até onde a voz pudesse ir
Eu não seria um sonhador
E nem mais um segredo, o meu amor"

Foi como ter aberto a caixa de Pandora, assim, sem querer.
Tudo fez sentido (ainda que só para mim).
Ficou na caixa a esperança e o segredo.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Novo começo...

Há um tempo vinha pensando sobre isso.
Tinha a sensação de que acordara depois de anos dormindo.

De repente veio uma sensação estranha.
Foi lembrando desses anos de sono, como um filme.

Dizem que quando a morte chega, passa um filme da vida.
Medo.
Não queria morrer agora que estava compreendendo tanta coisa....que tinha literalmente acordado para a vida.

Lembrou das viagens, das músicas, dos vícios e principalmente das pessoas.
Da dedicação, preocupação, noites em claro no telefone.
Tudo isso acompanhado das sensações, como se estivesse vivendo naquele instante: o sorriso chorando por dentro, o choro sem motivo, a raiva, a frustração, a inveja, a vontade!

Se estivesse num pesadelo, queria acordar.
Se estivesse para morrer, queria morrer logo.
Mas queria que acabasse, de uma vez por todas...não queria mais ver aquilo.

Acabou.
Respirou fundo.
Alivio, não tinha morrido.

Se olhou no espelho.
Estava diferente.
Sentia o coração pulsar forte.

Apareceu um sorriso no rosto.

E dessa vez, era de verdade.
Sem motivo e com todos os motivos.
Era como se tivesse acabado de nascer.

terça-feira, 10 de março de 2009

UTI

Era só mais um sábado normal.
Um almoço juntos e depois decidiriam o que fazer- cinema, teatro, ficar em casa mesmo...

Foi surpreendida.

Ele chegou com um bisturi.
Disse que precisava arrancar aquele coração velho dela, que o sangue estava podre.

Sem deixá-la se defender, arrancou-lhe, rápida e friamente, o coração. Torceu-o, enxugando todo o sangue.

Colocou de volta, e devagarzinho ele voltou a pulsar.
Amassado e dolorido.

Passou o tempo.

Ela refletiu e entendeu que apesar de forte e grosseira, aquela cirurgia não foi de todo mal.
Serviu-lhe de aprendizado, afinal, de alguma forma ela fez por merecer aquilo.

A cicatriz se eternizou.
E com ela, ficou a referência.
Quando o coração ameaça disparar como antes da cirurgia, logo interrompe...
Pode ser novamente um cirurgião açougueiro!

domingo, 8 de março de 2009

Saudades da Amélia!

Queimar soutien em praça pública, criar jornais para falar da importância da civilidade da mulher, lutar por direitos iguais...tudo muito bonito...no papel!

Não tem um dia se quer que não acordo pensando "malditas revolucionárias".
É por culpa delas que visto uma calça social, uma blusinha discreta e um casaquinho (mesmo com os 40ºC feitos ultimamente), coloco meu sapato de salto, brincos e saio para mais um dia de trabalho.
Passo de 8 a 12 horas do meu dia trancada em um escritório, com luz fria e sala gelada pelo ar-condicionado, em frente a uma tela de computador.
Justiça seja feita.
Conheço várias pessoas, que me ajudam a crescer e a ver o mundo de outra forma. Além de no final do mês ter aquela recompensa, já gasta anteriormente.

Mas que eu seria bem mais feliz passando o dia aprendendo receitas novas, levando meus filhos na escola, estudando com eles e me preocupando com o bem estar do meu marido, isso eu seria e não posso negar.

Sou a favor da liberdade e da igualdade.

E na minha mais singela opinião, longe de ser um pensamento revolucionário (já que eu só sei lamentar e me conformar em fazer parte do sistema), acredito que não deveria ser um dever da mulher partir para o mercado de trabalho.

Deveria ser uma opção.
Tem gente que acredita que ainda é.
Mas experimenta dizer que seu sonho é ser dona-de-casa e que está pensando em cursar "prendas domésticas", para você ver. É riso e piada na hora.

Eu acredito que faz parte da natureza da mulher a vontade de cuidar. Gostamos de cuidar do outro, de agradar.
Mas também gostamos de trabalhar, de sermos cultas, de ter independência financeira, de cuidarmos de nós mesmas.

Talvez esteja ai o grande problema.

O equilíbrio.

Entre o instinto e o imposto.

Entre sentir saudades da Amélia e de admirar e se orgulhar da malícia de toda mulher!

quinta-feira, 5 de março de 2009

No meio do caminho

É uma estrada que muita gente já conhece.
Cheia de mistérios, mesmo por quem já passou em algum dos seus trechos.
Ninguém sabe ao certo porque acessá-la, poucos sabem qual o destino que ela leva.
Mas todos são obrigados a pegá-la.
Alguma vez na vida, passar por algum trecho dela será inevitável.

De inicio não assusta.
É reta e há muito movimento e infra-estrutura- é asfaltada e tem policiamento suficiente.

De repente aparecem as curvas, bem sinalizadas é verdade, porém, a cada novo trecho elas se tornam mais perigosas.

Porém, há um trecho especifico que é pior. Ninguém sabe quando ele vai aparecer, mas sabe que ele sempre aparece.

É quando surge a bifurcação.
Escolher qual dos caminhos seguir é dificil, já que não se conhece o destino da estrada.

Todo mundo que já passou diz que depois que passa tudo se resolve.
Mas quem se encontra ali parado, de frente para a bifurcação, não consegue fugir da angústia e do medo de tomar o caminho errado.

Por isso costumam esperar um empurrão...
Que venha de outra pessoa, mais apressada e decidida.
Que venha do vento.
Mas pedem que, por favor, venha!

Assim fica mais fácil.