segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O amante do amor

Ele era um menino
Valente e caprino
Um pequeno infante
Sadio e grimpante
Anos tinha dez
E asas nos pés

Com chumbo e bodoque
Era plic e ploc
O olhar verde gaio
Parecia um raio
Para tangerina
Pião ou menina


Seu corpo moreno
Vivia correndo
Pulava no escuro
Não importa que muro
Saltava de anjo
Melhor que marmanjo


E dava o mergulho
Sem fazer barulho
Em bola de meia
Jogando de meia-direita ou de ponta
Passava da conta
De tanto driblar


Amava era amar
Amava Leonor
Menina de cor
Amava as criadas
Varrendo as escadas


Amava as gurias
Da rua, vadias
Amava suas primas
Com beijos e rimas
Amava suas tias
De peles macias


Amava as artistas
Das cine-revistas
Amava a mulher
A mais não poder


Por isso fazia
Seu grão de poesia
E achava bonita
A palavra escrita


Por isso sofria
De melancolia
Sonhando o poeta
Que quem sabe um dia
Poderia ser


(Vinicius de Moraes)

Um comentário:

Anônimo disse...

...e de tanto amar, na verdade, percebeu que não era amor...

e por ser paixão, viu que nada mais era do que efêmero.