quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Denise nos chama

Em 2006 resolvi trocar de celular...comprei um mais moderno (afinal o outro já tinha desde 2004 e nem tinha câmera), parcelado em 10 vezes.
Exatamente um mês depois da compra, às 17:00 de uma quinta-feira, numa travessa da Roberto Marinho, um menino com pouco mais de 10 anos veio tranquilamente na minha janela e disse: "Me passa seu celular se não te dou duas balas".
E assim o celular foi embora, faltando ainda 9 parcelas para ser meu de verdade.

Minha primeira reação foi pensar: "Vou ligar pra minha mãe" e logo em seguida:"ligar como, idiota?" Orelhão, sim, usei um orelhão. Tive que ligar pro meu pai também, no meu celular tinha um número dele, podiam ligar e dar aqueles golpes...pois é, eu tinha o número do meu pai no celular, mas não na cabeça.

Passei dois dias deprimidíssima. Ficava o tempo todo colocando a mão no compartimento da bolsa que ele ficava, tive um trabalho enorme para avisar meus amigos pedindo para ligarem em casa.
Comprei outro, igualzinho. Dessa vez, à vista...meu pai me deu.
Voltei a sorrir e a me sentir uma pessoa de verdade.

Depois, avaliando a situação onde todo mundo concordava com o fato de eu estar arrasada porque tinha "perdido" meu celular, me lembrei de uma professora de psicologia experimental prática, que mandava a gente desligar o celular enquanto estivesse com os ratinhos.
Uma vez o celular de uma amiga tocou, "desculpe professora, é meu filho".

Além de não ter desculpado, a professora ainda nos deu uma lição de moral daquelas... "Eu tenho três filhos, quando eles eram crianças eu dava aula e clinicava exatamente como hoje, e não existia celular. Será que fui uma mãe pior?"

Até hoje tenho isso na minha cabeça.

Como será que as pessoas sobreviviam antes do celular?
Como EU sobrevivi até os 15 anos?

Se não me falha a memória, era tudo mais simples e fácil.
Os encontros eram marcados com antecedência com horário e local bem definidos, as conversas pessoalmente dificilmente eram interrompidas e provavelmente o número de multas era bem menor.

Mas, infelizmente, não tem mais volta...

Hoje só posso dizer que meu nome é Ana, tenho 23 anos, tudo começou quando ganhei um celular aos 15 anos, e só por hoje não mandei nenhuma SMS....por enquanto!




(o título desse texto refere-se a um filme que assisti na faculdade- "Denise chama"- que aborda os malefícios da tecnologia nas relações pessoais)

2 comentários:

Gabe Manzo disse...

criou-se uma necessidade, quase que intrínseca..

num sei viver sem mesmo...já tive até dois.. (um deles parou de funcionar, momentaneamente).. eu só acho meio uó dar pra criança de 5 anos, pra ir pra escola e td mais.. é demais da conta.

Sereníssi*mah* disse...

atrapalha mesmo, viu?!
Antes as relações eram menos eletrônicas e mais humanas! Infelizmente eu não me lembro bem disso...