sábado, 16 de maio de 2009

Aquele cheiro.

Precisava apenas escrever algumas palavras...
Queria colocar para fora a angústia que estava me perseguindo, como uma confidência, algo muito meu.

Peguei, então, aquele caderno que comprei há um tempo, mas nunca tinha usado.
Abri e veio aquele cheiro...
Cheiro de caderno novo.

Me perdi nas palavras.
Não lembrava mais o que me angustiava.
Lembrava apenas do cheiro e do que o cheiro me lembrava.

Os primeiros dia de aula.
O cheiro das canetas e borracha no estojo.
O perfume das professoras do primário.
Os amigos do ginásio e do colegial, que vi virar ensino médio.

Lembrei do All star e da calça de moleton azul cortada embaixo.
Da mochila, da parede e do quadro com a tabela periódica na frente da classe.
Da preguiça. Das piadas, sempre as mesmas e sempre engraçadas.
Do recreio, que virou intervalo.

Dos últimos dias.
Das despedidas.
Da guerra de tinta com grito de alívio.

A folha, em branco, ficou encharcada.
E foi, sem dúvida, o melhor texto que já escrevi.

2 comentários:

Heloisa Emy disse...

aii que lindo! rsrs
sou suspeita para falar de cheiros...
eles me envolvem. o cheiro marca historia e constroi lembranças..
não há duvida de que aquele foi o melhor texto, eu senti e é o meu preferido, rs!

beijos!!!

Sereníssi*mah* disse...

aaaaai! esse texto pegou no fígado.=./
A nostalgia que eu sinto dos tempos de escola é maior do que qualquer outra que tenha vivido ou visto por aí... são tempos que não voltam mais, que marcaram uma fase que é parte do meu "eu" de hoje. Uma cicatriz, sem ferida, entende? Meus lábios se alargam num sorriso receoso que logo vira choro quando me lembro dos cheiros (e como eles são capazes de resgatar até as lembranças mais escondidas!), dos gostos, das risadas, da grama mais verde que já vi, das vozes...
Uma adolescência como poucos tiveram! Eu sou uma privilegiada! Seu texto trouxe tudo a tona e a saudade tá machucando, sorte que a dor logo vira alegria.

*Beijo querida.