segunda-feira, 20 de abril de 2009

Festa no céu

Minha avó paterna tinha algumas peculiaridades.
Mulher de fibra, guerreira, batalhadora. Sofreu a morte de seu filho mais velho, de 19 anos, num trágico acidente de carro.
Mas isso não tirou sua garra e vontade de viver. Continou firme e forte, se empenhava cada vez mais para ser boa esposa, mãe e avó.
Corinthiana roxa, torcia e vibrava pelo timão. Acendia velas, colocava água benta em cima da televisão...não lembro se chegou a ir ao estádio (era elegante demais para isso), mas lembro de sua torcida fiel ao time. Gostava também de fórmula 1, amava o Senna e mais uma vez colocava a água benta na televisão.

Meu avô materno é um exemplo de vida para mim.
Nasceu numa família pobre, casamento de português com índia, no interior de Minas Gerais, com 19 filhos como resultado.
Um dia resolveu sair da cidadezinha e crescer no mundo. Fez seminário, não porque queria ser padre, mas porque era o ensino disponível, começou a trabalhar no banco Nacional como contínuo. Foi crescendo, crescendo e chegou a diretoria.
Casou, teve três filhos, sofreu com a morte de uma filha (de 11 anos).
Era bem humorado, gostava de uma festa e amava muito o Corinthians.
Ia ao estádio religiosamente, ouvia os jogos no Opala azul na volta do sitio, assistia aos jogos em casa...
Fã de fórmula 1 e do Senna, vi pela primeira e única vez meu avô chorar no fatídico 1 de maio de 1994.

23 de abril de 1995.
Meu avô, depois de dois enfartos e uma cirurgia no coração, sofreu um enfarto fulminante, num domingo de manhã, dormindo, ao lado da minha avó que foi encontrá-lo cinco anos depois.
20 de abril de 2004.
Minha avó, depois de câncer de mama, cirurgias e vários tombos, acordou, depois de dias em silêncio por conta de um câncer no cérebro, nos telefonou, rezou um Pai Nosso e descansou, para sempre.

Ontem, depois de seis anos na seca, o Corinthians conquistou a vaga na final do Campeonato Paulista. E não poderia ter sido melhor...foi contra o São Paulo, campeão de tantas coisas nos últimos tempos.
Não podemos gritar vitória antes da hora. Mas a semana que seria triste, por conta da memória de pessoas tão queridas e especiais na minha vida, ficou feliz e já valeu por qualquer troféu.

Com certeza ontem teve festa no céu.
E foi tudo em branco e preto!

Um comentário:

Heloisa Emy disse...

que lindo! lembranças boas estas... abril, pelo visto, era para ser um mês melancólico e cheio de lembranças tristes, principalmente nesta época. mas as vezes um único ato, dois gols, o preto e branco, mudam tudo. e a tristeza, virou alegria. com certeza está tendo uma baita festa no céu!!!

beijos!!