sábado, 4 de abril de 2009

Trilha sonora

Costumava ficar agachada de frente para a vitrola da casa da minha avó, olhando a contra capa do LP do Bambalão, todos de laranja. Lá também ouvia meu avô fazer um "tumquichiquitum" cantarolando todas as músicas.

Lembro das viagens no carro, brincando de "A palavra é...", todos tinham a vez de falar a palavra...e para eu acertar pelo menos uma, meu pai sempre falava "Andréia" e meus irmãos e minha mãe, compreensivos, deixavam eu cantar "Andréia, Andréia uma barbuleta velha". Nessas, decorei "Oceano" do Djavan.

Aos domingos, íamos com meus avós na Churrascaria, que tinha um pianista. Minha avó sempre dava uma corjetinha e aproveitava para pedir "As rosas não falam". Hoje, quando meu pai ouve, não consegue esconder as lágrimas.
Nessa mesma linha, minha outra avó, mineira, dizia que a música de São Paulo para ela era "Ronda", e quem chora quando ouve, sou eu.

Chegou a era CD. Ganhei o meu primeiro- Sandy e Júnior "Tô ligado em você". Meus irmãos entraram na adolescência. Meu irmão gostava de Gabriel o pensador, Eric Clapton, Caetano e para dar uma descontraída, Só Pra Contrariar. Minha irmã comprava os CDs As 7 melhores da Joven Pan, mas era fã mesmo do Lulu, passando um pouco por Elis Regina, Ivete Sangalo, Titãs, Rita Lee, Marisa Monte e Adriana Calcanhoto.

Durante a escola, meus irmãos e eu tínhamos dia para ir na frente no carro e quem ia na frente, escolhia as músicas. Minha mãe escolhia na ida e a gente na volta. Minha mãe, quando não deixava naquela conhecida "começou um novo dia, já volta quem ia", gostava de Milton Nascimento, Chico Buarque e Fábio Júnior, mesmo rindo dizendo que era brega.

Meu pai cantava Fagner no banho. Ainda que negue até o fim..."Publicamente" cantava Caetano, Gil, Tom Jobim, João Gilberto e Milton Nascimento. Como tocava violão constantemente, cantava muita coisa diferente, mas gostava mesmo de tocar Toquinho e Vinicius.

Assim, fui construindo meu gosto musical.
Lembro do dia que vi que o Cazuza tinha morrido. Eu tinha cinco anos e aquilo me marcou. Ouvimos as músicas dele o dia inteiro e mesmo sem entender direito, fiquei triste. Achei que era a última vez que poderia ouví-las. Nascia, assim, meu grande ídolo.

Na pré-adolescência, ainda que negasse, era fã de Sandy Junior, a ponto de chorar quando o show acabava. Tinha todos os CDs, e fiquei arrasada no dia 6 de outubro de 2007 ao ir no último show dos dois juntos. Me identificava com eles, afinal a idade é muito próxima, sentia que eram meus amigos. E verdade seja dita, as músicas faziam muito sentido para a minha vida.

Na adolescência, segui a linha da minha irmã. Me dividia entre as músicas para dançar e as para "pensar"- em alguém ou na situação. Chico Buarque, Cássia Eller, Lulu Santos e- dessa vez para ficar- Cazuza, também foram importantes nessa fase.

Entrei na faculdade e pagode era moda. Ia toda semana cantar bobagens, me divertia...mas nunca levei aquelas letras a sério. Também fui em muitas micaretas e me comovia com aquela multidão levantando os braços na mesma hora gritando "chi-cle-te", apesar de saber que as músicas não significavam nada. Ia pela alegria não pela poesia.

Durante os namoros da vida, sempre foram criadas trilhas sonoras...Simply Red, CPM22, Guns´n Roses, West Life, Charlie Brown, Seal, Cold Play, Detonautas, Skank...Sempre que ouvíamos juntos, ficávamos emocionados. E quando o namoro acabava era impossível controlar o choro ao ouvir. Não pela letra, mas pela história.

A vida adulta chegou.
Ouço de tudo, muito...Seja brega, infantil, melancólico, poético ou engraçado...

É verdade que tenho minhas preferências de estilo. Mas independente disso, se a letra ou a melodia significarem algo, como diria Tim Maia, vale tudo.

Sou apaixonada por música.
Quando ouço uma música, é como se passasse um filme na minha cabeça, um clipe que ainda não fizeram.

Elas me trazem lembranças, boas e ruins.
Me fazem pensar nas coisas que ainda não aconteceram.
E, principalmente, me libertam para assobiar a minha vida como bem entender.

2 comentários:

Paulo disse...

nas ultimas estrofes conseguiu dizer o que a música faz comigo. compartilhamos do mesmo sentimento.

e de pensar que um dia eu ouvi que Sandy e Junior eram "the best of the world" hahahaha lembra dessa???

mais uma vez... Parabens pelos textos...

Heloisa Emy disse...

ufa! acabei de ler... rs.. enfim, vamos ao comentário.

impossivel nao lembrar da minha propria infancia e meus gostos musicais enquanto lia... me identifiquei com alguns outros nem tantos...

ah, música marca, música acompanha, a música dá cor, música é música... e sem ela, certeza a vida seria muito sem graça...

beijo