sexta-feira, 30 de maio de 2008

Freud NÃO explica!

Tinha me prometido não escrever aqui sobre psicologia. Explico...

Quando eu chego em algum lugar e começo a conversar com alguém que ainda não conheço, logo vem a pergunta:
- E o que você faz da vida?
- Sou psicóloga.

Não dá outra, sempre vem um:
- Ai credo, nem vou falar muito com você.

Engraçado. Não sei da onde veio a idéia de que os psicólogos possuem o poder tenebroso de adivinhar as coisas e descobrir os maiores podres do ser humano.

Pelo menos durante os meus cinco anos de faculdade nunca aprendi a desvendar mistérios, nem provocar pessoas. E também não adivinho o futuro, prefiro deixar isso para as videntes.

Gosto muito das entrevistas da Marilia Gabriela, apesar de não gostar muito dela. Acho ela muito prepotente e nem sem porque ela faz tantas perguntas, afinal, ela já sabe tudo. Mas de qualquer forma gosto dos entrevistados (na maioria das vezes).

Ela tem uma pergunta clássica, usada em todas as suas entrevistas: "Você faz análise?". A resposta do Aguinaldo Silva, autor de novelas da Globo, foi inesquecível: "Eu cobraria caro para alguém me analisar". O que promoveu gargalhadas da entrevistadora.

Meses depois, o convidado foi o meu querido Conttardo Calligaris. Apesar de eu odiar psicanálise, acho-o brilhante. Ele fala de um jeito leve e divertido.

A "Gabi", estava babando na frente dele. E começou com um batalhão de perguntas, não a respeito dele, mas sim de sua visão sobre as coisas, dentre elas, os famosos casos menina Isabella e Ronaldo com travestis.

Com a maior naturalidade do mundo, Conttardo respondia e se aprofundava, como todo bom psicólogo, no assunto, puxando o que vinha junto- por exemplo, sobre o caso Ronaldo, começou a falar sobre o que é um travesti e não sobre a culpa ou inocência do jogador, e por aí vai.

O engraçado é que as perguntas da Gabi iniciavam sempre com um belo "por que". Mas a resposta nunca foi "porque isso, isso e isso". Num dado momento, ela mesma disse "Psicanalistas sempre sabem a razão das coisas", mas ela emendou em outro assunto e ele não falou sobre essa colocação dela.

Acho que é isso que assusta aos meus desconhecidos ao iniciar uma conversa. O medo de eu tentar encontrar as razões das suas coisas, e pior, apontar para o ouvinte. E isso torna a imagem do psicólogo como uma pessoa chata e muitas vezes prepotente e dona da verdade absoluta.

De fato, é papel do psicólogo AJUDAR os seus PACIENTES a encontrarem as causas para os seus problemas. Isso deve ser feito em um ambiente que garanta, no minimo, o sigilo. O que está longe de ser uma mesa de bar.

É óbvio que fomos treinados a pensar de uma forma diferente, a puxar do assunto inicial o que "está por trás", mas nós não falamos os nossos pensamentos automáticos sem que alguém peça por isso. Afinal de contas, é o nosso ganha pão.

Com relação a sermos donos da verdade, saibam que no primeiro semestre, do primeiro ano de faculdade, temos uma disciplina chamada "Filosofia", que nos ensina que "Só sei que nada sei", e se tem alguma verdade absoluta, é essa.

Nós não sabemos de nada, cada um é que sabe de si, só tem dificuldade de enxergar (pelo menos, sob o ponto de vista- perdão pelo trocadilho- dos psicólogos). Então podemos dizer que somos o colirio, ou os óculos, como preferir, mas os olhos são dos donos.

Então Freud não explica nada, sem conhecer o caso. É preciso conversar, aliás no caso dele, precisa e muitooo. Cada caso é um caso, única e exclusivamente porque cada um é um.

É lógico que existe muita gente picareta, que faz mal uso das coisas. Mas devem ser a minoria e não podem, jamais, sujar a imagem de uma profissão que só visa o bem das pessoas.

Mas, para evitar conflitos, essa foi a primeira, de poucas vezes que escreverei sobre isso por aqui...

7 comentários:

Anônimo disse...

Adorei ler que somos os óculos, ou o colírio do que pede ajuda.. porque realmente não desvendamos nada, apenas ajudamos que a pessoa desvende.

Amilem!

Anônimo disse...

Tal pai, tal filha, diz o ditado. Essa menina me orgulha, caros leitores. Não por ser minha filha, imagiiiina, mas por ser tão brilhante quanto o pai dela.
Modéstias à parte, acho que a coisa do óculos é realmente fantástica. E cabe um cutucãozinho na turma dos fróidinhos: sabiam que ele usava um belo par de óculos?
ah,ah,ah,ah.

Filha
Um recado: por favor, não nos prive de seus comentários sobre a Psicologia nossa de cada dia.


Mauro (o pai)

Anônimo disse...

olá Ana!
Cada vez mais encantada,com vc tão encantadoura!!!
Como seria bom usar esses óculos,ou mesmo esse colírio!
Um grande beijo.
M.Inês

Paulo disse...

Leio seu blog sempre =o)... mas nunca sei o que comentar...

gostei do texto, o tópico é bom, mas eu gostei mesmo é como você falou dele....

Beijos

Paulo (o amigo)

ps, hahaha

Anônimo disse...

Boti-Boti!
Um beijo bem gelado pra vc!
Adorei o texto. Como seu pai disse: escreva mais sobre a psicologia.
Carol

Anônimo disse...

Adorei o texto!!!
E é bom para esclarecer as pessoas um pouco do que fazemos (e não fazemos...rs).
Você escreve mujito bem! Invista nisso!

Bjs

Bruna

Laiz disse...

Oi Ana querida,
Após um longo e tenebroso inverno eis-me aqui novamente!
Não sou psicóloga, nunca pensei em sê-lo, mas ou as pessoas confiam em mim ou acham que meu ouvido é penico, pois é só um desconhecido (os conhecidos então nem se fala...) parar perto de mim e pronto, em 5 ou 10 minutos já me contou sua vida e com riqueza de detalhes, inclusive os sórdidos (kkkkkk)!

Agora far-lhe-ei uma consulta:
Psicólogo cego tem ponto de vista?

Nosso amigo filósofo Sócrates está totalmente errado em sua declaração: "Só sei que nada sei", se ele sabe que nada sabe, então "alguma coisa" ele já declara saber...

É Freud...